por Coruja Sáb 30 Out 2010 - 19:27
Os minutos passavam se arrastando, o que parecia uma eternidade. A linha de luz que adentrava a prisão por uma fresta no topo da parede marcava que o sol ainda estava muito baixo. Deveriam ser umas 5 horas da madrugada.
Neste momento, cinco guardas extremamente bem armados e muito bem organizados adentraram a prisão, com seus passos em perfeito ritmo e harmonia. Eles dirigiram-se para a frente da cela de Muelbo. Seus olhos negros de touro não traziam a mesma expressão de Minus. Eles traziam a expressão de desprezo, fúria, sangue e morte. O quinto deles, no meio, não era um minotauro padrão. Ele não tinha a cabeça de um boi, mas de um carneiro. Parecia ser mais velho que os demais e tinha algumas cicatrizes no rosto. E quando falou, sua voz mais aguda que a dos minotauros e um tanto arranhada, como se ele estivesse rouco.
- Muelbo Jama. O grande Tauron sorriu para Tapista uma vez mais. Ele não deixou você morrer em sua medonha tentativa de fuga, mas nos permitiu levá-lo a julgamento pelos seus crimes contra o reino.
Ele fez um sinal e um dos guardas abriu a jaula, adentrando o ambiente. Ele era bruto e não tinha intenções de evitar machucar Muelbo. Ele pouco se lixava para a situação do meio-elfo. Foi logo arrastando o pobre Muelbo, que ainda encontrava-se muito ferido e debilitado. Lutar não era uma opção.
Muelbo foi praticamente arrastado pelo longo corredor de pedra bruta até sair do presídio. Do lado de fora, uma multidão se aglomerava em frente ao 'palco' dos julgamentos. Fora o caráter trágico, o lugar era lindo. Ficava na beira de um precipício, onde o mar insistia em debater-se contra as pedras vários e vários metros abaixo. Um navio estava ancorado a meio quilômetro de distância, como que observando de longe o julgamento. Para quem estivesse no navio, a visão era de um paredão de pedra que subia do meio do mar vários metros acima e então virava uma superfície plana.
Muelbo foi arrastado para uma área perto do despenhadeiro. Lá encontrava-se uma gaiola presa a uma haste por correntes móveis. Aquela era a punição máxima dada pela corte de Tapista ... morrer de fome ou afogado, preso a uma dessas jaulas que seria descida até o nível do mar. Uma morte lenta e dolorosa ...
A multidão queria o sangue de Muelbo, pelos crimes que ele cometeu ... e também pelos que ele não cometeu. A corte fez um sinal e então um dos minotauros levantou-se e falou em alto e bom som, som sua grave voz reverberando.
- Muelbo Jama. Você está sendo acusado da morte do Senador Heir Grin, assassinado à algumas semanas na estrada próximo a Calacala; da morte do cidadão Guzz Tron, parente distante do ex-general Minus Tron, descendente de uma linhagem de nobres minotauros que muito serviram a seu país; de conspiração contra o reino, sabotando nossos costumes; de corrupção contra o exército do qual você fazia parte; e por fim de crimes contra o próprio deus Tauron, por frequentar o templo de Lena, mas nunca o de Tauron.
Um silêncio mórbido conservava-se no ambiente a céu aberto, fazendo com que a voz do magistrado pudesse ser escutada ao longe. Apenas o som das ondas golpeando com fúria o paredão de pedra podia ser escutado além da voz do magistrado. Finalmente, tirando os olhos dos papéis que tinha sobre a mesa de mármore branco, o magistrado olhou diretamente para Muelbo e sorriu.
- Você tem algo a dizer antes de receber a sentença ... ?