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    Crônica Milenar

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    Mensagem por Coruja Ter 8 Jul 2008 - 16:19

    Breve introdução:
    Como eu disse, começarei a postar aqui a aventura que já vai a três anos. Estou postando na sessão de D&T pois o sistema utilizado é o 3D&T. Esta campanha é a prova viva de que 3D&T funciona.

    Elenco:
    Igor, as duas faces de uma espada - interpretado por Kalledemon

    Djaga, a natureza do caçador de almas - interpretado por Djagovisk

    Zak, a dureza do telecininja - interpretado por Molzak

    Yuri, a selvageria das garras da lua - interpretado por Yuri


    Cenário:
    Pense num planeta Terra com configuração continental diferente. Pense também que as diversas eras do tempo pudessem coexistir. Este é o mundo da Crônica Milenar. Diversas civilizações com avanços tecnológicos diferentes. E, quanto maior o avanço tecnológico, menor a influência da magia. A capital do principal reino, Castela, trata-se de um enorme castelo englobado por um burgo, englobado por uma vila, englobada por edifícios, englobados por uma muralha enorme. Fora isso, todas as civilizações estão passando por um grande problema em conjunto. Uma forma de vida alienígena está atacando o planeta. Eles não querem 'o poder'. Eles apenas querem as reservas de recursos naturais de silício e germânio, além de outros minerais. Contudo, nos campos de exploração onde há a presença humana, é inevitável que haja conflitos. E os humanos estão perdendo até agora... até agora...

    Agora que vocês já sabem um pouco da saga que irá se desenrolar, vou começar a narrar os acontecimentos. Peço que postem aqui apenas para me corrigir se eu esquecer de algo. No mais, se quiserem comentar qualquer coisa, usem o tópico de conversa. É para isso que ele serve: para conversar.

    Sem mais demoras...
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    Mensagem por Coruja Ter 8 Jul 2008 - 17:29

    Iga

    Nas montanhas do sudoeste, uma tribo de ninjas vive suas vidas através de árduos treinos e poucos prazeres. Eles treinam como tradição milenar para combater sua tribo irmã. Kouga é outra tribo de ninjas. Contudo, essas tribos, apesar de irmãs, são inimigas. Inimigas mortais. Por isso eles treinam dia e noite. Eles temem uns aos outros. E eles atacam para evitar ser atacados. E, desta forma, a guerra não termina nunca.

    Igor treinava mais uma vez o seu movimento rápido, chamado explosão. Acontece que Igor havia nascido com uma habilidade natural de hipervelocidade. Ele a chama de explosão pois trata-se de um movimento simples, executado de forma muito mais rápida que o normal.

    Igor repousa a mão direita no cabo da espada katana que descansa em sua cintura. Após mirar o alvo, um bastão de bambu, ouve-se um estalido. No segundo seguinte, Igor está do outro lado do bastão. O bambu está partido no meio, com sua metade superior no chão. Um barulho de lâmina anuncia que Igor guarda sua espada de volta à bainha.

    Passos podem ser ouvidos. Passos conhecidos. Igor vira-se na direção destes passos, já em posição de respeito.

    - Shihan. - diz Igor, com respeito na voz e curvando a cabeça para a frente.

    - Olá, jovem Igor. Vejo que anda treinando. Este golpe está cada vez mais perfeito. - havia preocupação na voz do Shihan, o mestre supredo de Iga. E esta preocupação não passou despercebida.

    - Há algo errado, Shijan?

    - Venha comigo, jovem Igor. Há um assunto muito sério a ser tratado. Você já treinou o suficiente. É o nosso melhor guerreiro. Está na hora de te dar uma missão de verdade.

    ...
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    Mensagem por Coruja Sex 18 Jul 2008 - 20:25

    Floresta de Villas
    (Nome ainda desconhecido)

    Djaga desperta. A noita havia sido boa e a árvore também havia ajudado. Ele se espreguiça sem, contudo, cair do galho onde repousava. Como que por instinto, ele agarra no ar uma cobra que acabara de dar um bote. A boca arreganhada da cobra mostrava com toda a vontade as presas inoculadoras de veneno. Djaga, com a sua manopla especial, apenas arremessa a cobra para o chão. A víbora foge, feliz por não ter perdido a vida em uma caçada mal empregada.

    Após comer algumas frutas, Djaga ouve alguns barulhos estranhos. Pareciam... risos? Andando pelos galhos, pulando de árvore em árvore, Djaga aproxima-se da origem do barulho. Os risos femininos vinham na direção do lago. Espreitando entre as folhas, Djaga pôde ver duas garotas brincando na água. Elas nadavam e brincavam. Aparentavam ter algo em torno de 16 anos. Djaga perdeu alguns segundos vislumbrando aquela imagem magnífica quando sua atenção foi desperta por algo não tão agradável. Uma voz afetada fez-se ouvir, mais para dentro da floresta.

    - Vamos meninas. - Disse um rapaz de uns 17 anos e roupas pomposas, com babados. - Tio Manoel não quer que fiquemos muito por aqui. Ele acha perigoso.

    - Deixa disso, Luigi! - Respondeu uma das meninas com uma voz doce e, contudo, carregada de uma infantil inocência. - Entre você na água... você vai adorar.

    - Eu? Na água? De jeito nenhum. E molhar o meu cabelo lindo? Esqueça! - E olhando desconfiado para as árvores e a floresta ao redor. - E vamos andando que estou me sentindo estranho. Parece que algo está nos... olhando. Sensação mais esquisita!

    As meninas se entreolharam e riram do primo. Ele era meio 'estranho', mas era uma pessoa legal. Decidiram, então, sair da água e atender ao pedido do primo.

    - E vocês não deveriam ficar só de roupa de baixo. Sabem que é impróprio para damas como vocês. - Ralhou o primo.

    As meninas nada disseram. Apenas pegaram toalhas na carruagem guardada pelo primo e se enxugaram. Se vestiram logo em seguida e entraram no carro. O primo foi à frente e pegou as rédeas do cavalo. Conduziu o animal em direção à cidade próxima.

    Djaga, em uma das árvores, agora examinava alguns dos itens que achou na carruagem. Sem que ninguém visse, enquanto as meninas e o primo conversavam, Djaga havia entrado na carruagem e vasculhado o que pôde. Não que Djaga fosse algum ladrão. Longe disso. Ele era apenas curioso. Aliás, para que ninguém pense que Djaga fosse algum tipo de Tarzan, devemos explicar melhor a sua história.

    Djaga nasceu em uma cidade, como qualquer garoto normal em que se possa pensar. Contudo, sua natureza o levava para longe daquela selva de pedra. Ele queria um contato maior com a natureza. Algo o chamava. E esse algo foi achado após 5 anos vivendo na mata. Dos 10 aos 15 anos Djaga viveu na floresta até encontrar a sua manopla. Não era uma manopla qualquer. Era uma manopla especial. E ele descobriu isso numa noite de lua cheia. Sentado próximo ao lago, ele foi abordado por um lobo. O lobo, imenso, muito maior que qualquer outro lobo daquela região, o rodeava, como que estudando o rapaz. Aquele lupino não estava caçando. Ele não queria matar Djaga. Aliás, o lobo estava morrendo. Já era velho e sua morte era de causas naturais. Na verdade, o lobo estava sendo atraído pelo mesmo objeto que atraiu a presença de Djaga. A manopla em sua mão e braço direito. O lobo aproximou-se lentamente, ficando face a face com Djaga. Então ele fez uma reverência e seu corpo começou a fumegar. O lobo se desfez numa espécie de fumaça, entrecortada por uma luz interna. Aquela fumaça deu duas voltas em um pequeno redemoinho e adentrou a manopla de Djaga. O cristal único que residia no dorso da mão da manopla, antes opaco, recheou-se de um brilho e a manopla brilhou uma vez.

    ...
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    Mensagem por Coruja Qui 28 Ago 2008 - 17:45

    Iga

    Depois da conversa com o Shihan de Iga, Igor foi enviado a uma missão importantíssima. A alguns meses atrás, um grupo de reconhecimento foi enviado para uma área suspeita de ter atividades dos áliens. Este grupo nunca mais voltou. Logo, Igor irá compor um seleto grupo de de busca. Ele e Pedras, um misterioso ninja, todo coberto por vestimentas, saíram em busca da verdade.

    Após alguns dias de caminhada para o leste, os dois foram abordados por um grupo de saqueadores. Os saqueadores estavam armados com fuzís e pareciam muito perigosos. Eles gritavam coisas como "Ninguém se mexe" e "Passa tudo!". Pedras deu um passo para trás, colocando a mão no bolso e retirando alguma coisa. Igor, já com a mão no cabo de sua katana, apenas sorriu. Os caras não entenderam o que aquilo significava... então, quando o primeiro deles esboçou um ataque, Igor disparou para cima. Com uma explosão de energia, Igor praticamente desapareceu do seu lugar, indo aparecer do outro lado do agora fatiado inimigo. Quando as duas metades caíram ao chão, começou o tiroteio. Os outros três começaram a disparar desesperadamente contra Igor, mas o ninja era mais rápido, desviando facilmente antes que o inimigo puxasse o gatilho. Veja que Igor não desviava das balas, mas saía de mira antes do gatilho ser pressionado. E foi assim que ele matou mais dois. SLASH. SLASH. Duas cabeças rolando. Só faltava o último que já não empunhava mais a arma. O último combatente pulou para trás. Seus movimentos foram ligeiros, apesar de sua cara de espanto. Igor partiu para cima dele e desferiu o golpe de misericórdia. Para surpresa de Igor, o bandido desviou. Como? Como poderia ele ter desviado de um golpe que ultrapassa a velocidade do som? Igor tentou mais duas vezes, mas o cara parecia prever cada movimento seu e escapava com incrível habilidade. Aquilo parecia estar errado... e foi então que, ao olhar para a cara de espanto do cara em ver os próprios movimentos, é que Igor sacou o que se passava. Aumentando o máximo de sua velocidade, Igor conseguiu atingir, por fim, o bandido na altura dos ombros. Quando seu torso tombou, duas pedras caíram rolando pelo chão.

    _ Meus parabéns! - Disse Pedras, às suas costas. - Vejo que você consegue superar a minha velocidade de manipular as rochas. Isso é muita coisa.

    Igor olhava para o companheiro sem acreditar no que ele já sabia.

    _ Desculpe ter te testado, mas é que eu ouvi tanta coisa sobre você que precisei testar eu mesmo.

    Pedras deu uma piscadela de olho, a única parte de seu corpo que ficava a mostra.

    Dias depois, eles se aproximaram de uma antiga vila. Na verdade, o local era para ser uma antiga vila. Agora, no entando, não passava de um posto de extração mineral, dominado pelos áliens. Após uma furtiva aproximação, eles puderam perceber um verdadeiro exército aglomerado alí. Além disso, haviam também duas grandes naves alienígenas e inúmeras naves menores. Foi então que Igor, querendo ver mais além, acabou por esbarrar em uma pedra que rolou... rolou... e chamou atenção dos áliens. Bastou um grito e disparos a laser começaram a pipocar. Pedras e Igor começaram a correr por suas vidas. O exército estava longe, mas... o pior já estava acontecendo. Uma das naves menores foi em seu encalço. Ela disparava contra Igor. Este quase não tinha tempo de se esquivar, pois os disparos eram sucessivos. E Pedras... onde estava Pedras? Igor já não via mais Pedras. Ele estava sozinho. Corria por sua vida sozinho... o que teria acontecido a Pedras? Um tiro passou de raspão em Igor. Contudo, ele não continuou sortudo por muito tempo. Um disparo grande-angular, que aumenta a área de tiro, diminuindo o poder de dano, o acertou. Igor tombou e rolou na terra. Estava ferido. o braço direito deslocado. Já não conseguiria correr, pois a perna também estava machucada.

    Como um verdadeiro ninja, ele se virou para encarar a nave que se aproximava para mais um tiro... o último tiro. Ele sacou a sua katana com a mão esquerda e bravamente esperou pela sua oportunidade. E foi aí que ele viu algo passar voando por cima de sua cabeça. Um pedregulho enorme, do tamanho de um carro, havia sido lançado na direção da nave, acertando-a em cheio. A nave, danificada, rodou, rodou e caiu no solo, explodindo. Ao olhar para trás, Igor vê Pedras, com as mãos jogadas para frente, como se tivesse acabado de arremessar algo. Igor não acreditava que Pedras tivesse realizado aquele feito. Parecia demais! E realmente foi demais para Pedras, que caiu no chão, inconsciente.

    Enquanto isso, o exército álien tivera tempo de se aproximar mais... e eles vinham atirando. Igor não poderia perder tempo. Guardou sua katana e pegou, da melhor forma que pôde, Pedras, colocando-o em seu ombro. Disparou a correr. Sempre olhando para trás, para tentar evitar os tiros dados pelos áliens... e foi assim que Igor não viu se aproximar a ribanceira que dava para a nascente de um rio.

    Rolaram os dois, indo cair dentro d'água. Exausto, Igor perdeu os sentidos...
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    Mensagem por Coruja Sex 29 Ago 2008 - 14:25

    Floresta de Villas

    Como dito antes, Djaga não era nenhum ladrão. Ele havia pêgo aqueles objetos para olhar... curioso sobre o que poderiam ser. E um desses objetos lhe chamou muito a atenção. Tratava-se de um cristal. Esse cristal era muito, muito parecido com o que tinha em sua manopla. O que? Ainda não falei da manopla de Djaga?! Impossível... Mas devo fazê-lo agora mesmo, por via das dúvidas.

    Djaga possuía uma manopla diferente das demais. Era uma manopla única, da mão direita, com formato e ornamentos que lembravam a um lobo. No peito da mão, subia uma espécie de cano. Subindo para o braço, a manopla ostentava um cristal único, de coloração verde. O cristal guardava a alma do lobo Fenris, o primeiro espírito capturado por Djaga. Ele poderia liberar a energia da alma do animal através do cano, como um disparo de energia.

    Pois bem. Djaga não era nenhum ladrão. E agora se encontrava com objetos que não eram dele. Isso não estava certo. Ele precisava devolver. Então, seguindo o rastro da carruagem, Djaga acabou por chegar na cidade de Villas. Não era exatamente uma cidade, mas um povoado. Aquele povoado era muito pequeno, vivendo de plantações que circundavam os limites urbanos, sem invadir a floresta. Era regida pelo homem mais rico do local, o senhor Manoel Porto. Manoel era um estudioso. Dedicava sua vida a estudar as culturas diversas e as tecnologias que diferiam de civilização para civilização. E foi justamente para a casa do nobre que se dirigiu a carruagem.

    Djaga caminhou pela cidade inteira, sem olhar para as pessoas que o encaravam surpresas, assustadas, ou simplesmente curiosas. Ao chegar na maior casa do local, situada no centro da cidade, ele encontrou a primeira barreira. Havia dois soldados parados à porta da cerca que fechava o terreno. Aliás, havia dois guardas e um índio. Mas que coisa estranha... tinha um índio velho junto aos soldados. Djaga se aproximou.

    _ O que quer aqui? - Pergunto um deles, com entonação e cara de poucos amigos.
    _ Calma Jeremias. Não devemos tratar as pessoas assim... - E, virando-se para Djaga. - O que você deseja, rapaz?
    _ Eu quero entrar. - Disse Djaga, simplesmente.
    _ Mas rapaz... você tem algum horário marcado para ter com o regente?
    _ Não. - A simplicidade de Djaga chegava a doer nos ouvidos do soldado.
    _ Escute. Você não pode simplesmente ir entrando. Você deve marcar um horário junto ao... - E o soldado começou a explicar a Djaga todo o processo burocrático para entrar no local. Obviamente que Djaga parou de escutar o soldado na quinta palavra. Aquilo não lhe interessava. O que lhe interessava era devolver os objetos. E foi quando o índio lhe falou.
    _ Se quiser entrar, sugiro que venha à noite. É calmo e deserto. Só tome cuidado com os cães.
    _Obrigado. - Respondeu Djaga ao índio.

    Os soldados ficaram se entre-olhando, sem saber o que fazer ao ver o garoto dizer obrigado para o nada. Não disse nada antes, mas o índio com quem Djaga conversava era um espírito. Ah sim! Caso não tenha mencionado, Djaga tem a extranha habilidade de ver e interagir com espíritos.

    O espírito do índio foi se afastando e desapareceu no ar. Djaga olhou para a casa novamente, depois para os soldados e depois para o caminho de volta. Ele voltaria mais tarde, quando fosse noite.
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    Mensagem por Coruja Sáb 28 Fev 2009 - 12:16

    Furtivo...

    Noite. A lua cheia brilhava no céu estrelado, enquanto Djaga caminhava pela floresta, carregando consigo os objetos apreendidos. O caminho da floresta era a parte fácil da tarefa. Espinhos, cobras e outros tipos de 'problemas' nada significavam para Djaga. Em verdade, ele não via os elementos da floresta como problemas. Contudo, bastou pisar no calçamento da cidade para seu humor mudar. Sim... as pedras perfeitamente dispostas não eram obra do acaso. Melhor continuar andando e terminar o que veio fazer.

    A cerca da propriedade não foi coisa difícil de pular. Nem os guardas sonolentos de driblar. Tudo muito fácil... esgueirar-se, furtivo. A casa parecia estar trancada. Nenhuma porta deixada levianamente aberta ou destrancada. Nenhuma, a não ser a porta da varanda do segundo andar. Subir lá é uma tarefa difícil para a maioria das pessoas, mas não para alguém acostumado a subir em árvores como Djaga. Em questão de segundos, Djaga andava pelo piso de madeira da varanda, passando pelo portal. Dentro, um corredor com 3 portas e uma escada.

    Djaga dirige-se a uma das portas. Um leve aroma de cereja no ar. A porta semi-aberta é finalmente aberta em sua totalidade pelas hábeis mãos do caçador de almas. Contudo, ele não estava aqui atrás de uma alma. Tudo o que ele queria, era devolver os itens para aquela jovem que ele vira à beira do lago. O quarto, levemente iluminado por velas vermelhas, denotava uma tonalidade rosa às paredes. Ao chão, várias almofadas de pelúcia. A cama de dorsel, com a tela anti-mosquito, deixava vislumbrar a figura de uma pessoa dormindo graciosamente, abraçada a bichinhos de pelúcia. Pantufas de coelhinho rosas, uma calça de seda fina e comprida, com detalhes de coraçãozinho, o bumbum arrebitado, a blusa igualmente com coraçõezinhos, uns babadinhos aqui e alí, e nas extremidades plumas esvoaçantes. O longos e lisos cabelos loiros caindo despreocupadamente pela cama e pelo corpo que alí deitava. Mas então o corpo se espreguiçou. As mãos se fecharam e os braços se esticaram. Os lábios se descolaram e se abriram num bocejo. E foi só então que Djaga pôde perceber que quem alí se deitava era, em verdade, o primo das duas garotas. O olho esquerdo de Djaga começa a piscar involutariamente, refletindo o choque de tal imagem maldita do inferno.

    -Quar... to... er... ra... do... - Disse Djaga para si mesmo, sem acordar a pessoa que alí dormia.

    Saíndo daquele ambiente, Djaga começa a pensar se foi mesmo boa idéia ter vindo à casa. Balançando a cabeça negativamente, Djaga acaba por entrar em outro quarto. Desta vez, o quarto parecia mais normal. Algumas flores aqui e alí. Uma quantidade considerável de livros nas estantes. Um grande guarda-roupas. Um baú. Uma cama estranhamente vazia, apesar de mostrar que alguém estava deitado alí a pouco tempo. Numa mesinha de cabeceira vazia, Djaga aproveita e deposita os itens, motivo para sua vinda noturna à casa. Pronto. Caso resolvido e bem sucedido. Djaga já saía do quarto feliz, por ter feito tudo sem ser percebido, quando acaba dando de cara com ela. Os longos cabelos castanhos encaracolados despencando por cima dos ombros, por cima da fina camisola de seda que dava forma aos firmes e durinhos seios em sua mais perfeita forma, aos dezesseis anos. Os olhos azuis da menina pousaram sobre os olhos escuros de Djaga. Dois segundos. E então a garota grita. Um grito agudo que ecoou por toda a casa. Djaga agarra a menina pela cintura com uma mão, colocando-a contra a porta, enquanto sua mão livre vai aos seus lábios húmidos, silenciando o grito. Mais dois segundos de contemplação. Ruidos de gente correndo no andar de baixo. Hora de sair! Djaga esgueira-se entre o portal e o corpo da garota, friccionando os dois corpos levemente. Ela inspira rapidamente e prende, sem deixar o ar sair de seus pulmões. Uma vez no corredor, Djaga corre até a varanda pela qual ele entrou e pula para o piso térreo, seguindo sua corrida em direção à cidade... e depois à floresta. Sua missão tinha sido cumprida.

    Na casa, Manuel Porto chega ao segundo andar, chamado pelo grito da filha. Ele à encontra encostada à porta de seu quarto, a respiração curta e ofegante e os olhos arregalados. Se Manuel não estivesse tão aflito, perceberia um leve sorriso nos lábios da filha.

    - Malena, minha filha... o que houve? - Perguntou o pai, preocupado.

    Malena olhou para a mesinha de cabeceira com os itens que ela, a irmã e o primo haviam perdido. Aquele forasteiro havia devolvido. Seu sorriso aumenta em quantidade e qualidade. Devagar, ela olha para o pai e responde, com a voz mais calma que pôde arranjar naquele momento.

    - N-nada pai. F-foi... uma barata. - Disse ela, baixando a cabeça. - Desculpe-me por assusta-lo...

    E essas foram as últimas palavras que os ouvidos aguçados de Djaga puderam captar...

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