Muelbo caminhava pelo corredor seguindo seus instintos. O caminho ia se abrindo a cada passo, se iluminando, feito raízes crescendo em movimento browniano.
As paredes brancas pareciam ter sido preenchidas com arte e histórias contadas. Uma semente que era plantada na terra e germinava, crescia em uma árvore e dava frutos. Seu fruto caía no chão e sua semente germinava, tomando o lugar da árvore anterior que murchava e morria.
Muelbo atravessou uma porta e começou a descer escadarias. As paredes contavam outra história ... ou seria a mesma? Uma bola de luz e então um bebê. Ele crescia e se desenvolvia. Conhecia uma mulher e ela ficava grávida, dando à luz outra criança. Depois o casal ficava velho, murchava e morria, virando novamente uma bola de luz.
O chão parecia indicar o caminho de Muelbo. Para trás, tudo era escuro e incerto. Só o que Muelbo tinha era o que lhe esperava à sua frente. Após descer as escadarias, Muelbo se encontrava na antecâmara de um saguão secreto. Ao chegar no saguão, Muelbo se deparou com uma cena indescritível. Talvez fossem seus olhos vendo coisas, talvez fosse tudo realidade, talvez nada passasse de sonho.
O saguão subterrâneo era ovalado. Muelbo havia entrado pela ponta menor, como se fosse a ponta do ovo. No centro da área maior, um altar em círculo gravado no chão de mármore, fundo. Na borda do altar, escadinhas de mármores davam acesso às áreas superiores. Nos cantos, vários grupos de mulheres, todas vestidas de branco com um manto vermelho por cima, entoavam um mantra ininterrupto. O som parecia mexer com Muelbo, agora que seus sentidos estavam à flor da pele. Todas as mulheres estavam mascaradas. O lugar parecia muito mais claro do que de fato deveria ser. O mármore parecia brilhar, como que emitisse luz própria.
Muelbo deslizou até o altar, ficando relativamente na borda. Mais três pessoas encontravam-se lá: duas mulheres e um homem, todos de máscaras. Sons de instrumentos começaram a rimbombar. Os tambores batiam junto com o coração de Muelbo. A respiração era longa e pesada. Risadas. Risos altos e gostosos. Vibrações boas. Liberdade. Até mesmo um grau de inocência. Muelbo não podia ver o rosto das três pessoas no altar, mas sabia qual delas era Gisele. Nem era pelo fato do cabelo ruivo contrastar estupidamente contra o branco do seu manto, mas sim pelo cheiro da mulher: um aroma de flor selvagem, dessas que nascem no meio do mato, feito alecrim. Uma flor silvestre, sem igual. E ele podia dizer ... ela estava pronta.
(( Continua ... ))