O Tesouro de Allihanna

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Ao leste do Reino de Petrynia, ao norte da Aldeia dos Centauros, uma pequena tribo de Orcs prospera. Aproximadamente 80 orcs vivem em conjunto, entre caçadores, guerreiros e xamãs. Como a dieta é exclusivamente carnívora, não existem agricultores entre eles. Já houve uma tentativa de criar animais de gado, mas fracassou miseravelmente. De fato, os orcs gostam mesmo é de carne de caça. Eles preferem a carne humana, mas isto atrairia atenção desnecessária sobre a tribo por parte das cidades humanas da região. Logo, enquanto não se meterem com os humanos, os humanos não vão se meter com a tribo. Desta forma, a tribo prospera no Bosque de Allihanna.

Mas nem tudo são flores. A tribo está longe de encontrar paz e sossego, graças a uma eterna tensão entre os orcs e os centauros da aldeia mais ao sul. Ao longo da história, esta tensão já aumentou e já diminuiu. Nunca houve uma guerra direta e declarada entre os grupos, mas a guerra fria sempre foi presente e várias vezes chegou bem perto de estourar em uma guerra bem quente. Desnecessário dizer que um embate entre os dois grupos resultaria em perdas para os dois lados. É possível afirmar que não haveria ganhador.

Recentemente, com a morte do antigo líder Xamã do Centauros, a tensão entre os grupos voltou a crescer. Odara, herdeira do antigo líder, agora a nova líder Xamã, não tem medido esforços para manter a paz e tentar firmar um tratado de não interferência e respeito mútuo entre as tribos. Contudo, por ser muito jovem, sua autoridade é constantemente contestada, principalmente por Koltan e Haromag, os líderes dos caçadores. Eles obviamente querem tomar para si a liderança sobre os centauros. Se isso acontecer, uma guerra entre centauros e orcs vai estourar, pois os líderes dos caçadores não são nem um pouco favoráveis à presença dos orcs na região.

Diante da seguinte situação, Gragoth, o líder Xamã dos orcs vai procurar a sua filha. Ele tem um plano, onde Malla é uma peça fundamental. Aliás, a única peça.

Malla, filha de Gragoth, é uma meio-orc, nascida de uma união de amor entre o líder Xamã dos orcs e uma humana, filha de ricos mercadores. Com a morte da mãe, Malla passou a morar com o pai, mas logo pediu para se afastar da tribo, pois sua condição mestiça sempre causava problemas nos dois lados da família. Assim, Malla hoje tem uma casa, próxima do Rio do Bardo, aproximadamente entre os territórios dos orcs e dos centauros. Por ser uma mestiça, sua presença é tolerada pela Aldeia dos Centauros.

Gragoth caminha devagar, apoiado por seu cajado. Ele ainda não está velho, mas um ferimento antigo de guerra o impede de caminhar vigorosamente como os guerreiros da tribo. Para usa sorte, Gragoth é um Xamã, profissão que ele pode desempenhar sem problemas, mesmo com o ferimento eterno. Gragoth aproxima-se da casa da filha e, ainda do lado de fora, chama por ela. "Malla, minha filha, você está aí?" Perguntou, e depois aquietou-se, esperando pela resposta.

Gragoth sorriu de canto de boca. "Adoro esse seu senso de humor ..." Disse, esperando a filha se aproximar. "Precisamos conversar, filha. Algo importante. Podemos entrar?" Perguntou, aguardando a resposta da filha. Apesar de não precisar de tanta cerimônia, Gragoth gostava de respeitar a casa da filha. Afinal, era a casa dela.

Gragoth adentrou o cômodo e ficou olhando para a filha por um certo tempo. "Você me lembra sua mãe ..." Disse ele, contornando o assunto principal, mas de fato relembrando de sua falecida esposa, Ada. Aparentemente os deuses não queriam uma união feliz entre humanos e orcs.

"Malla, minha filha, eu preciso muito da sua ajuda. A situação com os centauros não está nada boa. Além disso, Odara está perdendo prestígio entre os seus. Se aqueles idiotas caçadores ganharem a liderança da aldeia, vamos ter problemas, filha." Disse por fim, antes que a cena desse lugar para qualquer tipo de sentimentalismo. "Eu gostaria que você fizesse um favor para mim. Dê um pulo na aldeia dos centauros e fale com Odara. Eu sei que existe um antigo tesouro dos centauros há muito tempo perdido. Se você nós recuperássemos esse tesouro para Odara, tanto as relações entre as tribos quanto o prestígio de Odara iriam melhorar. Eu não tenho mais informações sobre a relíquia deles. Por esse motivo você vai ter que falar com Odara." E então ele se calou, esperando pela reação negativa da filha. Isso era quase certo de acontecer.

Malla, que até o momento mostrava-se indiferente, virou-se para o orc, sorrindo, "Claro, papai!". E, tão subitamente como apareceu, seu sorriso morreu "...QUE NÃO. Francamente, essa foi uma das PIORES ideias que você já me apareceu..."

Malla havia despido-se do arco e da aljava vazia, e encarava o pai, muito séria; seus braços estavam cruzados e o corpo descansava encostado no balcão de madeira onde ela deixara os coelhos abatidos.



((Uma palavra: IMPLORE.))

Gragoth amava a filha, mas também não era conhecido por sua incrível paciência, desta forma, até mesmo sua filha podia tirar ele do sério de quando em vez.

"Kätharina Malla H. Goldstein! Eu nunca requisito trabalhos de você. Não quer me seguir como Xamã, tudo bem, mas ao menos ajude seu velho pai em uma tarefa difícil." Disse e então levantou-se virando para a porta, pronto para ir embora. "Mas tudo bem. Entendo que você não possa ajudar. Neste caso, vou convocar a tribo e preparar para a guerra. Esse seu velho pai ainda sabe lutar ... você não precisa se preocupar." Disse, começando a andar para a saída.

Gragoth virou-se para sua filha, a cara ainda fechada. "Eu pediria, e eles atenderiam de imediato, se isso fosse possível. Infelizmente, somos todos ORCS! Não somos exatamente bem-vindos no território dos centauros. Ir lá seria uma fronta direta. Seria implorar para começar logo a guerra. Mas você ... você é diferente. Sua condição permite a aproximação da aldeia. Afinal, você ainda tem sangue humano nas veias. E por mais que os humanos sejam arrogantes e vis, eles ainda mandam nessa merda de reino. Os centauros não iriam se arriscar a matar você e arcar com as consequências." Disse por fim, esperando a contra-resposta da filha. Gragoth já não tinha mais nada para fazer alí além de saber de fato se a filha iria ajudar ou não.

Gragoth esperou a filha se afastar para só então sorrir. De fato ele tinha orgulho dela. Apesar do jeito duro e de se fazer de difícil, ele sabia que a filha também se importava com ele.

Feliz, Gragoth voltou mancando para a tribo, com o auxílio do cajado. Eles teriam um futuro ... a sim, eles teriam um futuro.

No caminho para a aldeia dos centauros, faltando uns cem ou duzentos metros para chegar, Malla acaba sendo surpreendida por cinco centauros caçadores, dos quais dois deles se destacavam dos demais.

"Ora ora ... o que temos aqui?" Disse a voz grave de Koltan. Ele portava duas grandes espadas, uma em cada mão, suficientes para fazer um belo estrago em criaturas três vezes maior que seu portador.

"Não sei, Koltran. Parece que um dos orcs veio se oferecer como sacrifício a Allihanna." Disse Haromag, empunhando um arco longo composto para melhor aproveitar a sua grande força.

"Veja Haromag! É uma mulher! Os orcs agora mandam mulheres para fazer o serviço dos homens!"

"Tem certeza, Koltran? 'Ela' é tão feia que eu tenho minhas dúvidas se é mesmo mulher." Disse Haromag, claramente provocando Malla.

Os centauros não iriam iniciar o embate. Mas estavam torcendo para Malla perder a paciência. Assim eles poderiam matar a meio-orc de graça, e ainda usar o ataque dela como motivo para tomar de vez a liderança da aldeia dos centauros e atacar a tribo dos orcs.

Koltran cerrou o cenho, furioso com a atitude da mestiça. Haromag, mais cauteloso, apenas acompanhou o caminhar da garota com o olhar. Ele esperou Malla afastar-se o suficiente para conversar com seu irmão em paz.

"Sabe, Koltran, eu poderia acertar uma flecha nela à distância. Ninguém saberia o que aconteceu." Disse Haromag, com o tom de voz baixo.

"Esqueça, Haromag, os humanos iriam rastrear o estilo de flecha até a nossa aldeia. Não vale a pena." Replicou Koltran. Mas Haromag era ligeiramente mais esperto que seu irmão esquentado.

"E se nós roubássemos uma das flechas dos caçadores humanos?" Perguntou Haromag, sorrindo de canto de boca.

Koltran primeiro ficou estático, mas depois sorriu junto ao irmão. "Isso me parece um plano, irmão. Um belo plano."

***

Na aldeia dos centauros, Odara cuidava de seus afazeres. Ela estava ensinando sua sucessora mais alguns truques de mágica. Coisa simples, mas que serviria de base para truques mais complexos.

"Isso, agora coloque mais vontade. Queira mesmo, do fundo de sua alma, ajudar o coelhinho. Sinta a energia fluindo, fechando e sarando a ferida do coelhinho ..." Dizia Odara, ensinando a pequena centaura que seria, algum dia, sua sucessora. Odara também aprendera de seu pai, o antigo líder Xamã da aldeia dos centauros. Mas não por muito tempo. Seu pai morrera cedo, vítima dos pérfidos kobolds.

Dos 80 centauros, metade era considerada criança, ou seja, ainda não havia atingido a vida adulta. Dos adultos, metade estava fora, caçando, enquanto a outra metade, cerca de 20 centauros adultos, em sua maioria mulheres, cuidavam de afazeres domésticos e do cuidado com as crianças, do ensino e do treinamento.

De longe era possível ouvir o som do único ferreiro trabalhando em uma nova espada. A produção da aldeia era lenta: cerca de 1 espada nova por mês. Às vezes levava mais tempo ainda. Odara encontrava-se em uma cabana grande, uma espécie de posto de saúde medieval. Em potes e prateleiras encontravam-se várias ervas medicinais, alguns animais mortos como sapos, cobras, escorpiões, e muito mais que seria impossível denominar.

Malla chegara a aldeia sem maiores dificuldades. Como não sabia muito sobre a cultura local, decidiu parar e perguntar a uma centaura em miniatura, que se entretia com alguma coisa que parecia uma fusão entre uma boneca e um cavalo.

"Ei, menina, sabe me dizer onde encontro alguém chamada Odara?"



((Coruja só posta pra não me ajudar. u.u))

(( Isso não é verdade ... u.u ))

A garotinha brincava tranquilamente em seu canto, quando foi interrompida por uma voz. Pela direção e tipo da voz, tratava-se de um adulto. Lentamente, a menina foi deixando o seu mundinho de fantasia interpretativa e virou-se para dar informações à sua interlocutora.

"Ela fica bem a ..." Os olhos da menina começaram a se esbugalhar quando notou quem era sua interlocutora. Não era uma centaura como ela esperava. Era uma criatura estranha, medonha e bizarra! Ela não só tinha apenas dois pés, como também se equilibrava apenas neles, sem usar as 'patas' dianteiras. Após alguns segundos, tempo suficiente para a garota se recuperar do choque, ela solta um grito de pânico e dispara em direção à uma cabana ligeiramente larga.

"Aaaaaahhhhh!!! Odaaaraaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!"

Em resposta ao grito da menina, os demais centauros interromperam seus afazeres, ora por curiosidade, ora por segurança, e foram verificar a causa do mal-estar da menina. E qual não era a cara de insatisfeitos e poucos amigos que eles apresentavam ao encarar Malla praticamente no meio da aldeia.

Em questão de segundos, os centauros já formavam uma roda ao rededor de Malla, tornando uma fuga praticamente impossível. Todos muito altos, mesmo para os padrões da meio-orc, era uma visão um tanto quanto assustadora. E os centauros limitavam-se a encarar a intrusa, sem proferir nenhuma palavra. Pareciam que esperavam por alguma coisa ... e essa coisa chegou.

"O que houve? O que está acontecendo? Quem está aí?" Perguntava a doce voz de Odara, denunciando também sua juventude precocemente interrompida.

Preciso lembrar de agradecer aos deuses por NÃO ter uma audição muito desenvolvida... pensou, enquanto a sirene em forma de criança quadrupede disparava meio a aldeia.

Malla não se importou muito com o fato de que o restante da tribo parecia querer lincha-la; ela havia cruzado um pequeno grupo de caçadores e estava ali, correto? Então obviamente as fêmeas seriam mais tolerantes... ou menos chatas, o que viesse primeiro.

"Por favor" começou a responder a centaura que se unia ao cerco, e que parecia a única com capacidade de falar (além da garotinha, claro), "estou procurando a xamã Odara. Venho em nome do xamã Gragoth, oferecer-lhe ajuda."

E Malla ficou encarando a jovem a espera de uma resposta. Ela não se mostrava nervosa mediante a situação.


((Hum, eu editei os posts anteriores, mas acho que o fiz errado. O pai dela estava preocupado com uma luta entre os centauros e os orcs ou os minotauros e os orcs? Corrija pra mim se você puder depois, o botão aqui suimiu.))

Uma gargalhada se espalhou pelos demais membros da tribo assim que Malla referiu-se a 'oferecer ajuda'. Até Odara não pôde conter um sorriso. Murmúrios sobre a sanidade da meio-orc e sobre seu senso de humor eram cantados entre os centauros.

A centauro relativamente jovem se aproximou de Malla, adentrando o círculo, e falou. "Eu sou Odara, atual líder Xamã da aldeia dos centauros. Venha comigo à Herbal. Conversaremos lá."

Enquanto Odara conversava com Malla, o círculo de centauros se desfazia lentamente, com seus membros voltando aos afazeres anteriores. A situação estava aparentemente controlada. Odara não era exatamente indefesa. Mas a atmosfera continuava em tom de humor sobre a recém-chegada.

"Que ótimo! Então me diz logo o que eu tenho que fazer para pegar o tal tesouro, que eu tenho dois coelhos estragando em casa. E francamente, acho que já aguentei ofensas demais da sua espécie por hoje, então, quanto mais cedo me livrar de vocês, menos perdido parecerá o meu dia."

Não que Malla estivesse de fato muito ofendida, já que a infância maldita ao lado do pai na tribo a ensinara o bastante sobre como ignorar comentários alheios, mas de fato, os coelhos estavam apodrecendo. E Malla não era do tipo que tolerava desperdício.



((Centauros não são muito melhores que meio-orcs. Eles parecem o primeiro experimento do Dr. Frankestain antes dele decidir que mais de duas partes diferentes davam um toque mais especial à coisa...)

Odara ficou encarando Malla por algum tempo com uma expressão de completa falta de conhecimento. Lentamente, uma de suas sobrancelhas subiu, dando prosseguimento à sua resposta. "Mas ... do que você está falando?" Perguntou, com sua amável e doce voz, e denunciando que ela desconhecia o assunto que Malla falava.