A Caverna do Urso Maldito

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Já fazia duas semanas desde que Eniaos partira na missão dada por Varrus. Além da ausência do elfo, Liqui ficara um tanto quanto arredia e com cara de poucos amigos. A gravidez estava ficando cansativa e, justo quando ela queria seu marido perto de si, ele fora mandado por Varrus em alguma maldita missão. Não, ela não estava feliz com aquilo.

Thormond também não trocava palavra com ninguém. Acordava mal humorado e ia dormir pior ainda. E sempre que Varrus tentava se aproximar dele, ele fechava a cara e se afastava. Quando muito pressionado, ele resmungava qualquer coisa sobre "seus garotos estão sendo treinados" e saía. Os garotos também não estavam muito felizes. Não estavam exatamente revoltados, mas sentiam-se inúteis por nunca conseguir sucesso nas aulas do Mestre Thormond. Sentiam-se uns bostas n'água e queriam, talvez, desistir e voltar a trabalhar no campo.

Esta era a situação em que Varrus se encontrava. O que ele poderia fazer?

Varrus estava em paz, estava ciente com tudo que acontecia em Terras Altas isso o confortava, ele não gosta de ficar saindo da sua casa para resolver coisas, mas ainda tinha coisa para fazer, sabia dos problemas relacionados a Liqui e a Thormond.

Varrus resolveu não tomar nenhuma decisão sobre Eniaos, sabia que o arqueiro ia voltar, era esperto e inteligente, mas Thormond ia fazer a vida dos rapazes um inferno.

Estava de tarde, o sol ia se indo embora e Varrus estava saindo de casa, trajando roupas leves e a espada na cintura, ao longo do campo pode vir Thormond berrando com os três rapazes, resolveu se aproximar o máximo sem ser notado e ficou assistindo ao treinamento por alguns minutos.

O treinamento não podia render pior. Não que Thormond não tivesse habilidade. A questão é que os garotos não tinham motivação para aprender e melhorar. Isso porque o próprio Thormond já os havia cacetado tanto nos dias anteriores que o ciclo vicioso não encontrava fim. Quanto mais Thormond brigava com os garotos, menos eles progrediam, e mais Thormond brigava por não progredirem.

Ao final, Thormond os dispensou, com mais palavras de desprezo e diminuição. Os garotos saíram de cabeças baixas, e alguns olhares zangados na direção de Thormond.

Varrus tinha que tomar uma atitude. Mas falar com Thormond ? Ia ser uma grande perda de tempo, o Meio-Elfo tinha personalidade forte e não ia dar ouvidos.

Mas Varrus teve outra ideia, resolveu ir falar com os meninos, apressou o passo para falar com os garotos e quando já estava próximo o bastante os interropeu dizendo:

- Rapazes ! Então, como está indo os treinos ? - Varrus já sabia que iria ouvir reclamações, mas tinha cartas na manga.

Os garotos, que já estavam saindo juntos do treino, pararam para olhar para Varrus. E contrariando as expectativas de Varrus, os rapazes não reclamaram. Tampouco demostraram alegria. Apenas permaneceram com seus semblantes mortos, desanimados, e nada disseram até um deles se dirigir a Varrus.

- Nós já podemos parar de treinar? Eu prometo que nunca mais vou paquerar a filha do Euclides.

Varrus hesitou por um minuto. Percebeu que Thormond não perguntou nada aos meninos, apenas escolheu e os obrigou a treinarem.

Mas mesmo assim Varrus tentou ajustar a situação com suas palavras:

- Rapazes, sei o que estão passando, sei também que não está sendo nem um pouco facil e muito menos divertido, mas peço que repensem, o fato de Thormond não ter vontade de ensinar não o faz um guerreiro ruim, vocês estão tendo uma oportunidade única de aprenderem a lutar, a melhor forma de se conseguir dinheiro, respeito e fama hoje em dia, também estão aprendendo a se proteger e a proteger as pessoas e as coisas que amam.

Varrus parou um pouco, mas insistiu:

- Infelizmente nessa vida, uma situação problemática vai aparecer, para qualquer um, ninguém nesse mundo vai conseguir viver só de paz, vai colocar você ou algo com que você se importa em risco e caberá a você estar preparado ou não, talvez você dê sorte, como eu dei, ou talvez não. - Varrus lembrou por um segundo dos seus amigos que morreram no cerco de Hershey, mas o pensamento foi embora tão rápido quanto veio.

- Mas não pretendo obrigarem vocês a nada, se quiserem parar de treinar, falarei com Thormond imediatamente e vocês voltam ao campo, mas peço que pensem, pensem muito, se determinem a aprenderem e serão tão fantástico com uma espada, e muito útil para as pessoas daqui.

Dois dos garotos pareciam considerar as palavras de Varrus, e chegaram a dar uma resposta.

- Sabe o que é, senhor Varrus, é que a gente não leva mesmo jeito. O cara lá é bom, a gente sabe. Já vimos e ouvimos histórias sobre ele. Mas a gente não nasceu pra isso. Acho que não dá pra fazer guerreiros de simples homens, ou dá?

O terceiro, contudo, parecia pensar em outra coisa.

- Peraí, quer dizer que isso tudo que a gente tá passando não é punição por ter paquerado a ficha do Euclides? Então por que estamos sendo punidos?!

Este último estava ficando revoltado. Ele estava encarando o treinamento como punição. Talvez esse fosse o problema dos garotos. Eles estavam achando que estavam sendo punidos, e não que estavam recebendo uma chance. Afinal, eram garotos, e não homens. Pareciam falar um idioma diferente dos adultos, e tinham interesses diferentes também. Mas, quem sabe, um empurrão a mais resolvesse o caso.

Varrus estava começando a ficar puto com o assunto, substimando 'homens do campo'...:

- Ai... vou contar uma história para vocês, não costumo contar muito essa história até porque eu não gosto dela. Eu morava em Hershey, não é segredo pra ninguém, os minotauros invadiram, saquiaram e destruiram o vilarejo onde eu morava, meu pai lutou para salvar minha vida, minha mãe foi feita escrava e eu nunca mais a vi, fui com um grupo de fugitivos para a cidade mais próxima.

- Não durou um dia até que os minotauros vieram com seus cercos, me deram uma espada e a todos que foram para lá, homens, independentes do que faziam, alguns eram camponeses, ferreiros, coureiro, barqueiros, mas tinhamos que defender nossas vida, não tinha outra forma. Fui colocado no portão leste com um monte de outros 'homens do campos' quando o portão caiu, os minotauros foram massacrando tudo e todos, consegui abater alguns minotauros, até Agron vir com um martelo e acertar ele na minha cabeça. Mandou um escudeiro me arrastar até o campo de cerco e me aprisinou, depois de estuprar todas as nossas mulheres ele voltou ao campo. Disse que não me matou porque achou meus braços fortes... para cortar lenha e minerar ferro.

- Todos os meus amigos, que trabalhavam comigo no vilarejo morreram aquele dia. Talvez se eu tivesse tido a oportunidade de vocês eu conseguiria salvar meus pais, ou não ter sido capturado, mas com o tempo eu me foquei e aprendi e agora minha espada protege vocês e a Terras Altas. Um dia, espero que não breve, vocês entrarão em uma situação de risco e cabe a vocês a se preparar ou não.

Varrus olhou para o 'terceiro' insistido em sua pergunta.

- Rapáz isso não é uma punição, é uma chance, e muitas mulheres gostam de homem que sabem lutar. - disse ele em tom risonho.

- E então, o que me dizem, vão virar guerreiros ou vão voltar para o campo ?

Os dois primeiros ainda estavam pensando quando o terceiro abriu um sorriso e exclamou. - Tá brincando?! Você tem toda razão! Garotas, me esperem que eu vou treinar! - disse ele, pondo uma perna em cima de uma rocha e o braço erguido para o alto, olhando para o horizonte. Nisso os outros dois começaram a rir debochando. - Se continuar assim, você não vai pegar ninguém, mesmo que seja um espadachim!

Os três saíram bem mais descontraídos, e provavelmente iriam encarar o treino do dia seguinte de forma diferente.

***

Àquela noite não haveria festejos. Àquela noite não haveria música, nem bebida, nem comida. Era uma noite silenciosa, depois de um dia de cansaço, de trabalho duro. E foi nessa noite silenciosa que um grito feminino ecoou, vindo da árvore, mais especificamente do Ninho. Era o grito de Felonunua.

((Há! Inspiriou Ash Ketchum ganhando uma insignia))

Varrus sorriu com os meninos, eles deviam focar em proteger e servir e não em mulheres, mas isso ele poderia resolver depois. Talvez teria o mesmo problema de motivação caso Thormond detonasse com eles.

Foi para casa, já era o fim do dia e nada restava fazer, estava anoitecendo e iria dormir, mas lembrou-se de Liqui, já estava sem marido a umas semanas, resolveu ir ve-la, quando derrepente ouviu um grito.

-Isso...Felonunua ! - Varrus correu desviando das casas até o Ninho, apreensivo e segurando no cabo da espada.

O Ninho ficava no alto da mais alta árvore da região, a que Felonunua escolhera salvar por ordem de um sonho misterioso que ela teve. Havia duas formas de subir. A primeira era escalando os vergalhões cravados na árvore. Não era confortável, mas era seguro ... se a pessoa tivesse braços firmes. A segunda era voando. Mas Varrus não precisou subir. Saíndo detrás da árvore, Felonunua caminhava em sua direção, os olhos brancos, provavelmente virados para trás. E foi com uma voz rouca e alterada que ela falou com Varrus.

- A coroa quer a espada, e para tê-la está libertando um mal a muito rendido. Um grande e poderoso ... - e nesse momento ela tosse, caindo de joelhos. Sua crise de tosse foi forte e profunda, e no final, seus olhos estavam normais, e ela tinha uma expressão de confusão e medo na face.

Varrus impressionado correu junto da moça e as envolveu em seus braços.. o que ela teria dito mesmo ? " A coroa quer a espada ... " ?

- Felonunua! O que houve com você ? - Ainda empreensivo olhou para os lados em busca de alguma resposta.

Felonunua estava ligeiramente fraca. Olhava para Varrus sem saber o que dizer, mas por fim ordenou os pensamentos.

- Eu ... eu acho que sonhei. Os deuses ... Allihanna fala comigo nos meus sonhos. Tem algo ... algo de ruim. Eu sinto, Varrus. Algo de muito ruim está acordando, após muito tempo ...

Varrus a abraçou com mais força e a olhou em seus olhos com sinceridade:

- Me diga o que fazer e eu farei !

Ela o olhou de volta nos olhos e balançou a cabeça. - Eu não sei. Sei apenas o que a deusa me mostra. - disse, ainda abalada. - Mas se quiser aliviar meu coração, me beije, sim? - fazia algum tempo já que ela tentava arrancar um beijo de Varrus. Talvez até algo mais ...

Varrus a olhou meio sem jeito mas reagiu firme:

- Ora... até depois de surtar você consegue pensar nisso. - Segurou o rosto da moça com as palmas da mãos nas bochechas e a beijou na testa. Em seguida a soltou, levantou, se ajeitou um pouco e prosseguiu:

- Se a Deusa mandar mais algum recado eu venho te ver denovo, se não precisar de min pretendo ir ver Liqui.

Por um momento Varrus se afastava. E no outro ouviu a voz de Felo novamente.

- Mas eu preciso de você! Apenas preciso de uma forma diferente. Ou minhas necessidades são menos importantes que as dos demais desta aldeia?

Varrus olhou para trás sorrindo:

- Esta necessidade outros homens podem saciar, se precisar de min sabe onde me encontrar !

Foi então continuando seu caminho, não havia nada mais para fazer, resolveu ir ver Liqui, seguiu até a casa da moça aonde morava com o Eniaos.

À medida que se aproximava da casa, Varrus viu uma certa comoção ao redor. Tinha gente reunida ao redor da casa e rostos felizes demonstravam alegria. Ao abrir caminho por entre as pessoas, Varrus chegou à entrada da casa. Passou pela porta aberta e encontrou, do lado de dentro, Eniaos e Liqui se abraçando e se beijando, após tanto tempo longe um do outro. Eniaos passava a mão na barriga super-crescida de Liqui e dizia-lhe qualquer coisa em élfico. Ao ver Varrus se aproximando, ele deu um último beijo na esposa e se aproximou do líder com um forte abraço.

- Trago boas notícias, Varrus. Acho que a busca pelo que me pediu está perto do fim.

Varrus sorriu contente. Mas não queria deixar Liqui mais zangada do que estava, para ganhar alguns pontos com a moça disse :

- Sabia que podia contar com você. Mas passe o resto do tempo com sua mulher e me procure amanhã, suas noticias podem esperar. Ela ficou muito tempo sem você por minha causa.

((Caso Eniaos não discorde e saia tagarelando))

Spoiler:

No dia seguinte, Varrus se reuniu com Eniaos para receber as notícias.

- Descobri um vilarejo produtor de ferro e outros minerais, chamado Ashwood, situado aos pés das Montanhas Kenora. Eu fui até Fauchard para descobrir isso. Conversei com a guilda dos ferreiros de lá e expliquei nossa situação. Não queremos virar concorrentes, apenas suprir nossas necessidades básicas. Pode-se pegar um navio em Malpetrim, que nos levaria pelo Rio do Bardo até a cidade de Riverdale, onde desembarcaríamos. Depois seguiríamos até Ashwood e negociaríamos algumas cargas mensais de ferro, o suficiente para trabalharmos.

Eniaos estava bem animado com as descobertas. Principalmente, ele gostou de sair de Terras Altas e explorar lugares novos.

Varrus convidou Eniaos para entrar, os dois sentaram numa mesa feito pela propria vila. Enquanto Varrus abria as janelas para deixar o sol entrar ia elogiando o companheiro:

- Se todos tivessem a mesma determinação que você, já teriamos ido muito mais longe!

Varrus sacou um mapa dentro de uma gaveta, velho seria um elogio, estava amarelado e os desenhos apagados mas ele já tinha decorado os desenhos antes de terem apagado.

- Fauchard..hum.. - dizia, escorregando o dedo pelo mapa.

- Bom, eu poderia ir lá, levaria alguns dias, com certeza, apesar de custar uma grana, uma grana importante para o vilarejo, mas você já imaginou o preço que iriamos pagar para esse carregamento chegar aqui de barco ? Acho que ficaria caro demais para nos.

Eniaos levantou os braços em sinal de auto-defesa. - Você me mandou buscar uma cidade produtora de minerais, e foi isso que eu descobri. E esqueça Fauchard. Foi lá que eu contatei a guilda dos ferreiros. Mas já vou avisando, eles são meio barra pesada. Se acharem que você quer entrar pro ramo, vão vir aqui de noite cortar nossas gargantas. Ao menos foi essa a minha impressão. Sou melhor para rastrear caminhos que motivações, sabe?

Ele se recostou na cadeira e olhou para o mapa. - Outra opção seria tentar a sorte com os Kobolds, no planalto, mas temo que possamos perder vidas nesse processo. Os malditos são fracos, mas estão em grande número. Eu ouvi falar que os centauros têm problemas com os kobolds, quem dirá nós ...

E então, olhando pela janela, ele acrescentou. - Se pretende negociar com Ashwood, é melhor que tenha com o que pagar. Seja dinheiro vivo, ou mercadoria. E se vamos negociar com mercadorias, melhor prepara logo a produção. Não acho que tenhamos uma produção grande o suficiente para trocar por metal.

Varrus sorriu com a defesa do amigo:

- Qual é ? Eu sei que não é culpa sua, você fez seu trabalho muito bem, mas acho que não vamos conseguir manter uma negociação com o dinheiro que temos..

Varrus coçou um pouco a barba por fazer e retrucou:

- Até poderiamos, mas as vidas de nossas pessoas não vale um pouco de ferro, o ferro somente ia cortar custos então poderiamos focar em outras coisas, mas precisamente em defesas... - Varrus enquanto falava com Eniaos foi andando até sua mesa tranquilamente, retirou de perto da mesa quatro placas.

- Não tenho dinheiro o bastante, mesmo que tivesse, sempre guardo para problemas futuros ou soluções. E mercadorias ? Nem temos para nós mesmo.

Varrus então colocou as quatros placas de couro de dragão em cima da mesa, sorrindo, maravilhando, achando que realmente serviu para alguma coisa aquele couro que ele retirou do dragão morto a algumas semanas atrás.

- Mas temos isso, em malpetrim talvez esteja barato porque pegaram todo o couro do dragão lá, mas nas montanhas kenora, é longe, o preço deve estar fabuloso, talvez consiga uns anos de entrega de metais com isso aqui. O que acha ?

Eniaos sorriu tanto quanto o amigo Varrus.

- Isso parece fabuloso! Nós poderíamos ... - mas então o sorriso se desfez. - Digo, você poderia ir amanhã mesmo. Uma andada até Malpetrim, depois um navio até Riverdale, e por fim seguir para Ashwood. Eu devo ficar com minha mulher. Uma missão dessas tomaria muito tempo e eu correria o risco de não ver o bebê nascer, e ela certamente não me perdoaria por isso.